festival do rio de cinema #1

24.9.07



rêves.
primeiros dois filmes: anna m. e sonhando acordado (da foto) um pensamento.
leminski ficava com o cinema americano, mas eu, eu não. eu queria mesmo era uma vida de filme francês. pra mim, nada de luz demais, planos convencionais, piadas indelicadas e grandes estrelas. eu quero as sutilezas, o silêncio que quase pode substituir o discurso inteiro, os diálogos densos, o sentimento. quero a fotografia dos mínimos detalhes, a trilha sonora doce e um roteiro despretensioso, onde o fim não precisa ser o desfecho. e quando passarem os créditos, eu ainda estarei vivendo, amando, sonhando. em francês.

trés souvent,

11.9.07

mon silence parle pour moi. et il dit tous les petites choses qui m'échappent.

devaneio (sem sentido) na areia;

5.9.07

eu me concentrava em olhar o mar, como se nada mais importasse; o meu infinito junto ao dele e qualquer, qualquer resquício de existência era levado pelas ondas. para se afogar lá no bem fundo - de mim.

e talvez se afogar não fosse ruim, talvez eu, secretamente, desejasse que o mar me levasse para onde quer que fosse. ser uma conchinha, daquelas que os pequenos acham e guardam, com carinho, porque conseguem ouvir o barulho das ondas. ou pelo menos assim fantasiam.

na minha infância subjetiva, fantasio junto. mas já não quero ser conchinha, porque de me sentir pequena já cansei. é, eu preciso descobrir como é essa coisa assustadora que chamam crescer e que, aqui por dentro, parece longe de acontecer.

talvez por isso o mar me deixe tão calma. ele é imenso, chega a assustar pela sua grandeza. a quase todos, mas não a mim. é que eu vejo nele o tudo e o nada ao mesmo tempo. o grande que só existe por causa do pequeno, que, de tanto mudar, nunca é o mesmo. e isso combina com o meu vazio, que se preenche de não-sei-o-que, e vai, vem, vai e vem.

é, só quem pode entender é o mar - tão pequeno, e tão infinito.

nos dias de sol,

você colocava seus óculos, aqueles enormes e caríssimos óculos escuros. me dizia pra usar também, que tudo mundo ficava mais bonito de óculos escuros, que era chique.

mas não, eu não gostava. eu sempre preferi quando chovia. eu gostava de ver seus olhos, eu gosto dos olhos. e não daquelas lentes pretas que escondem os olhos do mundo.

ouça bem;

4.9.07

no fundo, naqueles locais escondidos onde só se chega com muito coração, há sempre um silêncio. tão ínfimo que mal se pode (não) ouvi-lo. tão pessoal que raramente chega-se a alcança-lo. mesmo quando ele é seu. e, não duvide, você o possui, ainda que existindo-não-existindo alternado a cada hora, minuto, segundo.

pois há mistério no silêncio, ou talvez o silêncio seja o próprio mistério. sim, o silêncio é o mistério. é o que há de imprevisto na previsibilidade do dia, dos sentimentos programados para serem sentidos. o silêncio não os respeita, sussurra sorrateiramente saídas secretas. o silêncio sonha. fantasia alto, quando sequer nos pensamos capazes disso.

até percebermos, numa quarta ou quinta feira de tarde, geralmente quando faz sol. ou então numa terça de manhã, quando se caminha na chuva - e o vento batendo no rosto, mas de repente você não se importa de ficar gripado. ou sente uma vontade, que não sabe de onde vem (e vem do silenciozinho escondido) de ouvir uma certa música, dizer uma certa frase - eu me sinto tão bem! - ou tomar um picolé de uva.

e simplesmente não se pode evitar. ou pode, do mesmo jeito que se evita uma alegria ou um sorriso. até porque o silêncio também é sorriso, misterioso sorriso. assim como o silêncio é o ser, em sua totalidade e sua particularidade; é que por dentro, a gente é um mistério que sorri.