o grande e o pequeno.

29.11.07

Aí, coitado do novo pequeno, vai se arrepender de cada não beijo, cada não telefonema, cada não noite de insônia, cada não desespero, cada não entusiasmo, cada não carinho inesperado, indispensável, inevitável, imprescindível, cada não todas as palavras apaixonadas em qualquer língua do mundo.



adriana falcão.

[ah, é?]

little pieces of nothing #2.

21.11.07

sometimes i think people don't realize the difference their words can make.

aquele instante;

...então houve um instante, independente do momento anterior, ele aconteceu; e que mania os malditos tinham de surgir nas mais inoportunas ocasiões! Entre o momento que estacionava o carrinho, já cheio de compras, e se reclinava ligeiramente para observar o preço do arroz, parou. Com alguma reclamação, que não foi propriamente ouvida, mas adivinhada pela face amarga – não que as faces rotineiras costumassem ser gentis – da senhora que vinha na direção oposta.

De que importava? As pessoas estavam mesmo sempre reclamando, devia ser algum tipo de prazer contar der quantas coisas se tinha sido possível resmungar em determinada situação. No trânsito a tarefa parecia muito bem sucedida, talvez como uma estranha maneira de passar o tédio, ou, quem sabe, usava-se das buzinas como um jeito desesperado de ser visto, porque, de outra forma, ninguém repararia: ‘Estou aqui! Olhem para mim!”

Agora, entretanto, as mais agudas buzinas podiam soar num irritante coro que ela não ouviria. Os instantes costumavam ter essa característica um pouco incomum de torná-la assim cega surda muda pelo tempo que durassem, e podiam levar horas e horas. O que se passava também variava, sendo fixa apenas uma sensação de: estar fazendo sentido, da sua verdade intrínseca superando toda a vida externa. O aumento do preço do filé, os filhos que logo chegariam da escola, a matéria que precisava terminar até o fim do dia ficaram em segundo plano ao surgir aquela fortíssima certeza de estar sendo, plenamente, ela mesma.

Ao contrário de tantos, massacrados pela rotina, ela ainda era. Nesse momento, não pôde deixar de lembrar-se dos seus dezoito anos, quando os instantes e a certeza no ser lhe eram tão mais fundamentais, e da madrugada insegura que passou, alimentada por gelo e biscoito recheado, escrevendo a si mesma uma promessa de que nunca viraria umas das outras. Por mais difícil que fosse. Jurou que não calaria jamais a parte inquietamente encantada – e encantadora – de si. Tamanha foi a supresa ao constatar a promessa ainda válida que precisou, ali mesmo, no meio da sessão de limpeza do mercado do bairro, abrir um enorme sorriso.

Não lhe pareceu muito bem aceito, e de novo as recordações da juventude lhe irromperam com aquela sensação de achar-se sempre tão deslocada, mas estava suficientemente certa de si mesma para não se importar. Tampouco importou-se, ao chegar no caixa para pagar, de descobrir que havia esquecido o arroz; ficasse para outro dia. Nesse dia, apenas tomou seu carro, sintonizou numa agradável estação de rádio e voltou à casa. Sem ouvir ou produzir qualquer som de buzina. Sempre soube que não seria boa jogadora na distração dos entediados de suas próprias vidas.

lost in translation;


- I just don't know what I'm supposed to be. You know? I tried being a writer, but... I hate what I write.And I tried taking pictures, but they're so mediocre, you know. Every girl goes through a photography phase. You know, like horses? You know? Take, uh, dumb pictures of your feet.

algumas palavras,

aqui são censuradas. por fatores a perder de vista. outras, que costumam ser as piores, são censuradas mesmo dentro da minha cabeça, e eu queria tanto poder contá-las, mas falta-me a coragem. não que elas sejam agressivas ou qualquer coisa assim, mas sempre tive essa preocupação estúpida de dizer apenas palavras que não magoam. e tenho que guardar pra mim, sempre, sempre. pode parecer idiota (como se eu realmente me importasse com isso, como se eu já não estivesse acostumada com isso) mas às vezes acho que precisava de um pouco mais de compreensão. ainda que silenciosa.

19.11.07

there’s no place else i could be, but here in your arms.

i surrender.

18.11.07

"sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?"



caio fernando abreu.

[...]

14.11.07

nada más que para no sentir tan de cerca la lluvia de esta tarde vacía.

kiddo - o menino dos óculos invisíveis.

10.11.07

ele sai todos os dias na mesma hora, mas numa hora que nunca é a mesma, de tão diferentes que são as coisas que ele vê. e não falo do céu, do sol, do simples caminho que percorre. ele vê umas coisas extraordinárias, feito a árvore solitária, o pintor do céu, o lindo sorriso da menina que passa.

e ele acha que ninguém mais vê, que ninguém o vê. mas o menino se engana, inseguro – assim meio charlie brown – o menino não sabe da existência da minha varanda, dos meus óculos, das sete horas e vinte e três minutos. principalmente, não sabe da existência dos seus óculos.

provavelmente já se questionou sobre as coisas que só ele vê, provavelmente se sente um tanto solitário e, com certeza, não sabe que o centro de tudo está nos óculos. e me bastou uma primeira visão para imediatamente reconhecer. o menino possui aquele artefato que raros recebem, sem pedirem nem escolherem, e que lhes pode mudar a vida pelo tempo que usarem: os óculos invisíveis.

não é mesmo fácil descobrir, embora os indícios estejam espalhados por toda a literatura sonhadora – cortazar, por exemplo, nos chamava de cronópios – ou músicas doces, ninguém diz abertamente. talvez por medo de ser uma idéia inconcebível aos outros ou uma viagem própria e particular – costumamos ser um grupo que se acha muito solitário. Afinal, quem em sã consciência acreditaria que alguns possuem óculos invisíveis que colorem o seu campo de visão e mudam a perspectiva e, conseqüentemente, o sentimento contido em cada fato?

só mesmo as crianças. elas ainda têm a inocência e imaginação necessárias para enxergar os, como eu costumo chamá-los, óculos de sonhar e são curiosamente atraídas a sentir maior afeto por aqueles que os possuem; são sempre seus adultos (se é que, algum dia, chegamos a ser adultos) prediletos. quem sabe o menino já tenha reparado em como as crianças costumam direcionar bonitos sorrisos a ele.

mas nunca, nunca reparou na minha varanda, e na maneira como nossos óculos refletem a luz um do outro às sete horas e vinte e três minutos. nunca reparou que não está sozinho na sua infância que parece eterna, com todas as ilusões que deve ter. não sabe da quantidade de coisas que tenho para lhe dizer, ou de tantas e tantas outras que sonhei vivermos juntos – aqui, do alto do isolamento da minha varanda.

eu tenho vontade de descer, de lhe contar sobre os óculos, a varanda e tudo mais. contudo, há essa barreira que me impede, essa vergonha, esse medo de forçar um encontro que, planejado, nunca é ideal. o encontro, bem sei, seguramente vai acontecer, imprevisível, em algum dia próximo, enquanto não chega, aqui de cima observo o menino. e, com toda a força que minha fantasia pode ter, faço um único desejo: jamais perca seus lindos e invisíveis e coloridos óculos por aí, kiddo.

idéia maluca;

8.11.07

eu queria ter uma coleção com 330 dvds, dentre os mais diversos tipos, a única regra é que todos, de alguma forma, me chamassem atenção. uma coleção que desse pra ver um filme por dia (tirando um mês e cinco dias de férias) durante um ano, sempre depois escrevendo alguma coisa, qualquer coisa mesmo, sobre o filme. quando iniciasse ano novo, eu começaria tudo de novo, os mesmos filmes, novas anotações. será que os escritos mudariam muito?



(será que eu vou ser sempre essa inevitável ligação com o passado?)

só por dizer...

eu tenho medo do fim dessas ilusões, de descobrir que no fundo, sempre no fundo, tudo era produto da minha mente que não consegue passar um instante qualquer sem fantasiar. e tenho medo de ter fantasiado cada uma das quatro paredes do meu quarto, cada uma das minhas quatro seguranças. não que eu não esteja acostumada com incertezas, mas quando elas se misturam com o que me mantinha, com o que dava as cores nítidas, é doloroso. e agora tudo vai ficando...opaco. eu precisava que você mudasse o tom, eu precisava de doze mudanças de matizes e não desse contentamento amargo, desse engolir em seco e pensamento que vai ficar tudo bem. porque não vai. ou talvez fique, nunca se sabe. quem sabe eu só precise de algo que me surpreenda.