mão-dupla.

29.1.08

hoje eu tenho todas as palavras montadas num esquema lógico. pela primeira vez em tanto tempo, eu ouso tê-las; decidi me dar um voto de confiança. que ninguém fique sabendo, mas, cá entre nós, sempre houve muita decisão escondida sob essa camada de fragilidade. essa insegurança que cala muita das minhas vozes. eu sempre soube, sem jamais procurar saber.

agora, contudo, a situação é outra: construí minhas certezas, de forma que suas incertezas não possam mais me derrubar tão facilmente. alguém me disse, eu não ouvi, que um relacionamento (com todas as pomposidades - inúteis - da palavra) é completamente mão-dupla, entende? a sua mão também tinha que estar lá, eu nunca vou poder substituí-la com a minha outra mão.

nunca. tenho mania desses exageros típicos de quem está tão imerso nos sentimentos que mal enxerga qualquer dimensão. estou prestes a me afogar dentro de mim e é tão simples, tão humano oferecer sua mão para me ajudar. ainda que depois seja preciso criar toda uma nova forma de agir, ainda que no começo as palavras fiquem engasgadas: enquanto houver nossas duas mãos, unidas, eu vou até o infinito com você - por você, por nós.

serenidade.

28.1.08

agora lá fora está tudo meio nublado, meio coberto de neblina de um jeito que as coisas parecem muito mais...serenas. os carros passam lá no aterro, mas o movimento é bem distante, de um jeito que não perturba essa sensação de calma tão grande. pra completar, alguém toca saxofone, uma música doce e melancólica, lá no andar de cima. parece a trilha sonora que eu, mentalmente, escolhi para compor o momento. e essa espécie de proteção contra tudo que possa causar uma batida mais acelerada, descompassada do coração. agora tudo segue perfeitamente o compasso das notas do saxofone, da chuva fina e das palavras do homem que filmou o amor (eu lia um livro de cinema que falava sobre truffaut).

não queria pensar mais nada, sentir nada que fosse mais intenso que o delicado balançar dos barcos na baía de guanabara ou a leve subida do avião, que agora já se perde entre as nuvens - eu sempre fui fascinada por asas. mas há algo ainda inquieto: o saxofone vezenquando pára e os meus dedos criam ritmos nervosos ao baterem na mesa.

eu sei que agora sou toda presença em mim mesma, que nenhum vento balança os coqueiros que têm raízes profundas. mas há sempre partes mais frágeis, e as pontinhas das minhas folhas não conseguem se defender nem mesmo dessa brisa mansa (e de repente todo o cenário parece mais angustiado). há uma ausência.

o saxofone agora constata apenas a melancolia: esta solidão de se ouvir um som distante e quase mudo por não se ter quem ouvir mais perto. esse olhar constante para fora - ou para dentro de mim - pela falta de perspectiva de algo mais. a distância enorme daquilo que me falta; e ainda mais longe, desaparecendo sempre na brusca curva da pista do aterro. esse não estar: a presença transfigurada em ausência.

e, de repente, constatar o que falta se torna fácil como notar a ausência da vela nos barcos a frente; tornando qualquer espécie de movimento um tanto mais complicada. a música sempre me conduzindo: fecho os olhos e consigo enxergar a cena perfeitamente. ou sem qualquer perfeição, porque não seria preciso encontrar tanta serenidade do lado de fora caso ela já estivesse dentro.

a cena é a mesma, bem como minha busca por qualquer espécie de paz. mas a presença da ausência não mais esconde-se sob a neblina: consigo delinear perfeitamente todo o espaço - ou seria todo o estrago? - que há dentro de mim: truffaut o filmou, eu não posso viver sem ele; compassado, vezenquando em notas melancólicas, mas que, enfim, sempre restaure a serenidade aconchegante, que acabe com essa ausência insuportável.

(então suspiro, baixo, discreto. não ouso interromper a melodia do saxofone, nem, tampouco, a minha - quase serena - solidão.)

para dar valor.

15.1.08

nunca mais posso fazer isso comigo.

...

14.1.08

nothing's gonna change my world.

como tudo.

12.1.08

saí andando, tão concentrada na dificuldade de dar cada um daqueles passos que não pensava em outra coisa. parei só para comprar um café e sentar do lado de fora, esperando que você seguisse o meu caminho e meus passos tão incertos. em vão. descobri que não gosto de café: ele é quentinho e aconchegante, mas quando acaba deixa um gosto amargo na boca.