carta para o seu próximo ano;

25.12.08

minha pequena,

em primeiro lugar, eu preciso te dizer que, diferente do que pensa, eu compreendo sua dor. ainda que seja numa compreensão mansa e que flutua acima de cada uma das feridas centrais. eu as vejo, com a minha incurável leveza, é claro, mas sempre sei qual pontinho te dói mais a cada dia e o tamanho do seu desespero para curar tudo isso e, no entanto, constatar: não há nada que possa ser feito.

essa é uma das confissões mais difíceis de se fazer, porque destrói um por um daqueles tijolinhos que nos esforçamos tanto para carregar e erguer o muro do controlar-se-a-si-mesmo. e de repente não é assim que funciona e algo ou alguém sem qualquer piedade com o seu esforço te leva ao chão.

eu te peço calma nessas horas; há sempre novos tijolinhos esperando para serem usados, eo que vale mesmo é a sensação de crescimento mais do que o fim. eu sei que seus olhos enxergam muito mais o lado de dentro do que qualquer das coisas que te cercam, mas vezenquando é preciso olhar adiante. o futuro, por mais clichê que seja, é sempre uma surpresa.

e pela forma como você distraidamente trilha os caminhos mais bonitos - ainda que depois se desespere achando que fez tudo errado, eu não tenho a menor dúvida de que coisas incríveis te esperam. acredite em mim, logo vai chegar aquele dia em que se pensa: ainda bem que todas as coisas aconteceram exatamente como aconteceram para me trazer precisamente a esse ponto da vida. sim, ele existe e vem quando todas as pequenas coisas alegremente se alinham formando algo colorido e enorme, mas isso aí você não pode planejar.

aconselho que caminhe por todas as ruas de sua nova cidade não-buscando tudo aquilo que ninguém é capaz de ver da sua forma sempre doce. é esse seu jeito de mergulhar e se perder dentro de casa uma das suas pequenas coisas que sempre me fez pensar que você seria a mais feliz de nós.

e ainda acredito que, nessa esquina ou na próxima, você vai se dar conta da felicidade transbordante, da mão que te guia pelos caminhos, das pessoas que você cativou sinceramente durante o seu caminhar e, sobretudo, de como você é infinita em possibilidades e amor. nesse momento, espero que lembre das minhas palavras e sinta vontade de pegar o primeiro vôo de volta só para sorrir para mim o seu mais doce sorriso e me abraçar.

mas siga. e não desista nunca do seu caminhar tão único, tendo sempre o amor como força. tendo sempre todo o meu amor como força - você sabe que ele será sempre seu.

um beijo doce,
mariana.


saldo do ano:

amor.



(your hand in mine)

uma distância e meia;

20.12.08

querido pedro,

sempre achei intrigante e seguro ter você dizendo me conhecer muito melhor que eu. mesmo do meu jeito risonho-desconfiado, sempre acreditei; até porque, isso nós dois sabemos, o meu forte nunca foi auto-conhecimento. você me dizia que meu caos era tão colorido que eu jogava uma idéia de cada cor para o alto para depois pegar aquela - ou mesmo umas duas ou três - que me chamasse mais atenção pairando sobre a minha cabeça.

em todos os momentos, isso me pareceu bastante delicado, e eu sentia até um certo orgulho de ter uma coleção tão vasta de cores. vezenquando, tentava mesmo imaginar que cor eu teria escolhido em uma ou outra situação, mas raramente conseguia pensar em uma só. agora acho que as cores já deviam vir trançadas ou todas embaralhadas; é assim que vejo minhas idéias.

você sempre colocou tudo de um jeito tão docemente simples que, na verdade, nunca fui eu. minhas idéias, meu pedro, nunca vieram de cima da cabeça e nem mesmo de dentro dela. o que você nunca entendeu foi que tudo o que existe de colorido sempre esteve no coração. inacessível. e agora eu sei que nunca foi sorte a minha ter tantas cores dentro de mim, porque me canso de cada uma delas tão depressa que talvez minha vida seja sempre uma busca por novos tons.

e será, meu pedrinho. será ainda preciso aprender uma forma de contar aos outros os meus novos tons. não por capricho, como você sempre disse, mas por necessidade. preciso sempre e sempre dar sentido aos caos antes que ele retire o meu próprio sentido. para que sentir não seja intolerável.

e isso, você nunca soube. como também não percebeu que as minhas "terríveis doces crises", como você dizia, hoje causam esse distanciamento definitivo entre nós dois. agora eu sou e é você; em cidades sintonias continentes cores distintos. eu preciso respirar diferente, preciso mergulhar no que não conheço, preciso que a vida seja menos azul, pedrinho. e você é todinho azul.

o azul mais bonito que eu já vi. e por quem eu vou sempre ter o maior dos meus carinhos multi-coloridos.

até logo.
isadora.

...

18.12.08



i miss us;

(resolution)

10.12.08



paixãozinha.

(em branco)

claro, até um gato sorridente sabe, não se chega a lugar algum quando não se tem planos ou objetivos. mas talvez ele, assim como eu, não consiga entender porque, ainda assim, caminhar sempre faz tão bem; ainda que seja em círculos.

assim;

27.11.08

hoje eu descobri que você não sabe ver dentro de mim.

(espaço)

5.11.08

vezenquando eu queria de verdade poder me rasgar em dezenas e dezenas de pedacinhos.

minhas pessoas.

12.9.08

um dia conheci uma menina pequenininha, de olhos puxadinhos e voz mais doce e baixinha do mundo, mas que era tão grande que eu achava que ela podia ser até super-heroína, se quisesse.

conheci uma menina tão colorida que era um arco-íris e eu tinha certeza de que só o jeito hiperativo e divertido dela já era, em si, o meu pote de ouro.

conheci um menino que tinha medo do mundo não entender suas nuvens coloridas, ainda que elas fossem as mais bonitas que eu já tinha visto.

conheci uma menina que se escondia debaixo de guarda-chuvas sem saber que, lá no céu, o sol mal podia esperar para brilhar sobre o talento dela.

conheci um menino que sabia ser perfeitamente capaz do que quisesse fazer, mas queria que o amassem mais do que tudo isso.

conheci uma menina cuja doçura do coração era ainda maior do que a de seus cachinhos.

conheci uma menina que era mágica e sabia voar, mas guardava segredo até dela mesma - e sentia um vazio enorme por causa disso.

conheci uma menina que vivia tão acostumada com sua tristeza que temia quando a felicidade vinha visitá-la.

conheci a menina mais eufórica do mundo por fora, mas que por dentro precisava muito que alguém lhe dissesse palavras doces.

conheci um menino que se envergonhava quando conseguiam ouvir as batidas do seu coração.

conheci uma menina apaixonada pelas pequenas coisas, mas que não conseguia ver que isso era recíproco e ficava triste, triste.

conheci uma menina que tanto precisava e merecia carinho que minha vontade era abraçá-la até que ela parasse, de vez, de ter medo da solidão.

conheci uma menina cuja sensibilidade ficava guardada numa gaveta pequenininha, mas muito especial, no meio de toda a sua segurança.

conheci um menino que era o meu espelho distante e fazia a saudade doer demais.

conheci uma menina que usava as palavras como se fossem brinquedos de montar e construía sempre lindos castelos.

conheci uma menina que guardou meu coração dentro do dela. e todo dia me fazia feliz por cuidar dele com tanto carinho.

conheci uma menina que tinha um brilho encantador nos olhos, dentro dos quais eu conseguia enxergar tanta força e beleza que eu torcia muito para que ela também conseguisse ver.


(a idéia original é da menina dos castelos, mas eu precisava muito dizer o jeitinho como as pessoas estão todas aqui, guardadas dentro de mim.)

de resempre.

11.9.08

e de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. e a gente entende tão bem desses pedacinhos desconexos, de pequenas - gigantes - revelações no ônibus, em restaurantes ou bancos públicos onde, subitamente, o passado, outrora terrível, acalma-se como uma criança a ouvir a mais doce canção de ninar.

sempre, sempre me surpreende a forma como os nossos pedacinhos caminharam, desde muito cedo, a um encontro, ao eufórico momento em que pudessem, por fim, se encaixar perfeitamente aos compreensivos pedacinhos de outra pessoa. exata. mas, ainda assim, guardando o silêncio, pois sempre fomos do tipo de pessoa que fala baixinho e não acredita facilmente na própria felicidade.

quando ela se faz tão presente a ponto de tomar nossos corpos numa dança inquietante é que notamos: de repente, somos felizes. nesse encaixe tão perfeito em que minha única vontade&sentido é existir para você. com você. existir em você, como muitas vezes eu sinto, num desses momentos de euforia, sem, no entanto, notar a dimensão que
tomamos em mais de um ano de vida.

é que o amor não está só nesses de repentes, meu bem. muito além, ele esteve - e está - em cada um dos dias que prepararam nossas pequenas partes desconexas; em cada timidez, nas nossas brigas tão apaixonadas que nunca nos separaram e, sobretudo, em cada pequeno sorriso que damos ao pensar em um toque, um cheiro, uma respiração. tudo o que parece ser pequeno, mas, assim como nós, é infinito - em todo e qualquer momento.

porque você se atemporalizou em mim. você é meu passado presente futuro; a presença que veio mesmo antes de imaginar estar presente, assim, tão de repente. só com você tenho essa certeza gratificante de estar viva, ainda que, algumas vezes, falando silenciosamente ou temendo qualquer ruído além da batida compassada de nossos corações. de maneira tão precisa que torna impossível qualquer dúvida, mesmo que só nos demos conta em dias excessivamente cinzas ou coloridos, os nossos pedacinhos, meu amor, nunca nos deixam esquecer. sempre aquela espécie de porto.

(...)

7.9.08

estoy tan solo como este gato, y mucho más solo porque lo sé y él no.

cortázar.

um pequeno sol particular.

5.9.08

eu poderia ter permanecido sentada naquela mesma posição por quinze minutos ou treze horas. era difícil dizer, pois a espera geralmente se conta do momento em que é finalizada. a minha: nunca. eu estive lá por todo aquele tempo, fosse ele longo, curto ou mesmo inexistente. é mesmo possível que assim fosse, inexistente. também aquela cidade, aquele banco e aquela última tentativa frustrada de romper o silêncio.

mas precisávamos dele. fico recordando a forma como as coisas se sucederam e penso que sabíamos uma da outra muito mais do que as escassas palavras pareciam ns sugerir. toda essa falta de compreensão mútua refletia perfeitamente a incompreensão interna e, sobretudo, o medo da palavra certa. verdades, bem sei, podem doer. muito além da cidade, somos estrangeiras de nós mesmas, entende? por isso aquela delicada cena fez tanto sentido: o parque. um sorriso. outro. uma pequena afeição alheia. era tudo o que precisávamos, e buscávamos, incansavelmente, na nossa louca sede pelo recomeço, pelo esquecimento. e, assim, num pacto selado através do silêncio, jamais soubemos nada muito além da superfície.

da mesma forma como pouco descobrimos a respeito daquelas cidades as quais percorríamos debaixo do guarda-chuva amarelo nos infinitos dias chuvosos. por mais que tudo fosse cinza,sempre existiria nosso próprio pedaço de sol para nos levar em segurança a mais uma catedral,residência real, centro histórico ou parque. comonaquela primeira vez. i don't have an umbrella,may i go with you? e tudo era tão óbvio.

tudo foi tão óbvio durante a euforia do verão, as noites mal dormidas e a afeição delicada. sequer ousaríamos pensar que haveria um fim, era como se as cidades européias fossem se suceder infinitamente e nós permaneceríamos unidas pela fuga até que. e aí não havia nada; a única continuação era, justamente, a falta dela. existir, naquele tempo, era como sonhar acordada.

e eu fingira até o último instante não estar notando um lento e degradante despertar. primeiro a falta de dinheiro, que solucionamos dormindo em espeluncas cada vez piores, o que pouco importava enquanto houvesse o abraço dela durante a noite. de repente, no entanto, começamos a sentir tantas dores por causa dos colchões que já não nos abraçávamos. logo e seguida, o guarda-chuva amarelo ganhou um pequeno furo. e outro. e outro.

quando nos demos conta, precisávamos discutir a respeito de que faríamos durante o dia ou brigávamos pelo cobertor puído de nossas espeluncas. não era mais possíel fugir, obviamente. ainda restavam dois dias na cidade em que estávamos, os quais se passaram de maneira absolutamente hostil. acho que sempre fomos demasiado óbvias para nós mesmas, sabíamos exatamente o que aqueles dias dolorosos representavam.

discordamos quando precisamos escolher uma nova cidade, naturalmente. aquela fora a primeira - e única - vez, mas não houve espanto algum. concordamos com a diferença e aceitamos com uma forçada naturalidade e um pedido de desculpas velado. apenas seguimos, ainda que dessa vez eu retornasse ao início e ela escolhesse outro destino. na última noite, esboçamos um abraço final, que me foi ainda mais doloroso por dentro do que por toda a dor nas costas acumulada. precisávamos, a todo custo, daquele suave despedida.

quando acordei no dia seguinte, ela já estava de saída. mochila nas costas e o meu guarda-chuva amarelo pendurado da mesma forma como eu costumava colocá-lo na minha mochila. foi assim a última vez em que a vi. seus cabelos loiros presos num rabo-de-cavalo deixando um pedaço de sua nuca descoberta, de forma a me lembrar terrivelmente seu cheiro específico que me confortava nos passeios pelas cidades debaixo do guarda-chuva, por mais que o mundo parecesse cair sobre as nossas cabeças. e caía.

sempre quis saber exatamente o que passou pela cabeça dela no exato instante em que fechou a porta, pegou o trem, ou algo insignificante que equivalha a esses momentos figurativos das emoções. pensávamos estar fazendo exatamente o que devíamos, mas será que, ainda assim, ela ousaria imaginar o contrário? me pergunto, também, por onde andará nesses dias frios e desesperançosos; teria continuado mesmo até seu próximo destino? vezenquando ainda acredito na nossa semelhança e penso que não pode estar muito diferente de mim. então me arrependo e torço para que esteja melhor.

quanto a mim, voltei naquele dia à cidade inicial, comprei um novo guarda-chuva, embora não mais chovesse, e me dirigi ao ponto de início de tudo; o mesmo banco. com a cena reconstruída, esperei por um tempo insuportável o surgimento de um novo sorriso, um novo pedido. ali estava, inocente, achando que algo encontraria. não seria, no entanto, ela.

jamais fizemos juras de amor-eterno ou qualquer coisa que demandasse palavras grandes, nem sequer promessas de manter contato depois daquele tempo, do nosso tempo. mas ali, sentada naquele banco, notei que o meu silêncio era o máximo de mim que eu poderia oferecer a alguém; e ele era todo dela. por mais que nossa fantasia houvesse passado, agora eu tinha certeza de que ela era minha realidade. fosse para trazer um pouquinho de sol para os dias frios ou simplesmente sorrir aquele primeiro sorriso. me dei conta de que sempre seríamos nós, por mais que não houvesse as consecutivas cidades européias ou sequer as caminhadas. precisávamos apenas estar, ainda que estáticas. como eu, infelizmente, no momento em que ela se foi. sem um
movimento, sem uma palavra, seguindo nosso pacto silencios. restou, no entanto, o pensamento: may i come with you? e tudo era tão óbvio.

(des)ligando;

25.8.08

minha porta está trancada há exatos dois dias, quatro horas e dezenove segundos. sei disso pela programação da tv, acho que já vi todos os programas em cada um dos trinta e poucos canais. menos os de pornografia, que aí já é apelar demais. essas coisas se repetem, sabe como é? da terceira vez que você vê a maldita competição de quem imita melhor um peixe-boi ou sacaneia mais os vizinhos, você já sabe. e não tem graça.

aliás, a verdade é que nada tem muita graça mesmo. tv imita a vida real e a vida real imita a tv, tá todo mundo cansado de saber, minha gente. cadê novidade? no último capítulo todo mundo morre ou casa, depende da sorte do sujeito, né. e não tem essa história de mocinho ou bandido não, é sorte mesmo, sabe? ma-nique-ís-mo comigo não cola, cê ta me entendendo?

se essa baderna toda tivesse acontecido há uns vinte anos atrás, não seria assim. ah não! quando eu era jovem não deixava o tempo passar desse modo. tinha sempre o que fazer e o tempo, se quisesse, que corresse atrás de mim. mas quando você fica velho, faz o que? uns comprar cachorro gato papagaio garota de programa, outros vão morar com os filhos e cuidar da adorável prole melequenta. eu quero é que me deixem em paz.

trabalhei feito um cão a vida inteira, como dizem. não sei de onde tiraram que esse bicho preguiçso que só late e dorme trabalha, mas tudo bem. o fato é que dei duro minha vida toda pra sustentar mulher filho filha amante outra filha associação de moradores governador corrupto, agora mereço descansar em paz, antes que o diabo me carregue. porque deus deve ficar ocupado demais, provavelmente pensando: onde foi que eu errei?

pretensão ou não, às vezes também fico pensando nisso. onde foi que eu errei pra ficar velho num tempo em que bala perdida é mais comum que bala de hortelã? fora todos esses assaltos; até parece que vou dar meu dinheiro pra vigarista com idade pra ser meu neto! mesmo pra eles, só dou um trocado pra merenda da escola, porque preciso economizar pra viajar o mundo. velho tem esse direito.

porque sairde casa mesmo, só se for pra fora desse brasil e dessa cidade onde só acontece desastre & carnaval. já vi na tv todos os programas sobre grécia egito áfrica do sul, mas o meu favorito mesmo é o japão, porque tudo é ao contrário. lá o povo fica acordado enquanto a gente dorme e tem aquela parecida de olho puxado com um sorriso sacana, acho que é pra rir da gente. mas não é brincadeira não, a tecnologia toda vem de lá. pelo menos a minha tv. gosto do japonês porque ele trabalha sério.

já falei pros meus filhos que eles têm que trabalhar e parar com os telefonemas todosantodia. visitar mesmo, não visitam. ao invés disso, mandam uma televisão com canal até dizer chega. que seja, minha vista já tá mesmo muito cansada pra leitura e no jornal só tem tragédia. não vale nem a pena abrir a porta pra pegar, até porque hoje em dia ladrão vem até disfarçado de fascículo promocial sobre a história grega.

mas pra entrar aqui, só se for ladrão mesmo. de resto, só essas pessoas que aparecem na tv; jovens & belos. depois que a gente envelhece e não serve mais pra nada, ninguém liga, ninguém procura mais. ainda bem que logo menos junto dinheiro pra viajar o mundo todo, assim, sozinho mesmo. sem ninguém pra reclamar da bagunça fazer barulho dividir vinho e pôr-do-sol encantador. mas agora dá licença que tá na hora da minha novela.

signs that say what you want them to say and not signs that say what someone else wants you to say;

22.8.08

(gillian wearing)

modo silencioso;

8.7.08

de qualquer forma, não encararia como uma despedida. não. aquilo era mais como uma: constatação de impossibilidades. possivelmente disfarçada, escondida debaixo da crescente mágoa e das palavras ineficazes. sabia exatamente o momento de partir, num modo tão rigorosamente preciso que era capaz de evitar mesmo os esboços de sofrimento. bastava aquele pequeno sinal, a fagulha de um sentimento de decepção; que poderia surgir durante uma briga, uma sessão de cinema ou mesmo entre um beijo e outro.

e foram tantas vezes que mal conseguia lembrar-se sem investir tempo, cafés e cigarros. companhias suficientes para esvaziar maços e maços, presentes nos mais diversos acontecimentos. sem, no entanto, chegarem, em qualquer ocasião, a ultrapassar sua superfície. vinte e cinco anos, cabelos castanhos, uma certa dificuldade - até graciosa - em pronunciar palavras com "r". mas ninguém foi capaz de descobrir a forma como a sua vontade de chorar podia ser sentida pelas mãos, ou o silêncio enorme que fazia em seu interior. jamais souberam sequer do enorme incômodo que era sentir-se por fora daquilo tudo que representava justamente: sua vida.

nem ele se deixava saber. vezenquando entre uma página e outra de seus autores favoritos, imaginava seus próprios escritos: algumas palavras perfeitamente pensadas, "imponentes" "desinteresses" e "inadaptabilidades". e do pensamento desviado surgiam outras, que o tornavam "portador-do-maior-dos-vazios-internos". mas não se dispunha à tais sentimentalidades. não se dispunha a deixar mais do que o cigarro se desfazer em cinzas e encontrar despedidas e dores, que tanto receava; para evitar constrangimentos. para evitar que doesse. e havia a dor. possivelmente disfarçada, debaixo de silêncios e pequenas - assustadoras - ignorâncias.

(me and you and everyone we know)

if you really love me, then let's make a vow. right here, together, right now. ok? all right: repeat after me. i'm gonna be free, and i'm gonna be brave. i'm gonna live each day as if it were my last. fantastically. courageously. with grace. and in the dark of the night, and it does get dark, when i call a name, it will be your name. what's your name? nevermind let's go. everywhere, even though we're scared, 'cause it's life and it's happening. it's really really happening, right now.




right now.

top 5;

11.5.08

songs that could have changed my life:

5 - summercat - billy the vision and the dancers;
4- the fox in the snow - belle and sebastian;
3- metal heart - cat power;
2- the only living boy in new york - simon and garfunkel;
1- visions of johana - bob dylan;



(these are really sick days.)

all the lonely people...

não importa a proximidade, o outro seria sempre apenas o outro, como numa sina de solidão.

(belle and sebastian)

24.4.08

oh, i'll settle down with some old story
about a boy who's just like me
thought there was love in everything and everyone
you're so naive!



(get me away from here, i'm dying.)

(my blueberry nights)

16.4.08

- you still have the keys?
- i always remember what you said about never throwing them away, about never closing those doors forever. i remember.
- sometimes, even if you have the keys those doors still can't be opened. can they?
- even if the door is open, the person you're looking for may not be there.



(a few years ago, i had a dream. it began in the summer and was over by the following spring. in between, there were as many unhappy nights as there were happy days. most of them took place in this café. and then one night, a door slammed and the dream was over.)

tudo numa coisa só: a terceira parte;

15.4.08

sem que eu esperasse, você me deu as mãos para me levantar e tirar de todo o marasmo e das incertezas anteriores. ainda que não me levasse a lugar algum, eu já estaria satisfeita; jamais teria a força necessária para me erguer sozinha. mas, além disso, você permaneceu e me fez estar tão próxima a ponto de não mais podermos fugir ou negar o desejado desfecho. aquele exato instante que eu repassaria repetidas vezes em minha mente, como o último resquício de esperança: suas mãos no meu cabelo, meus braços rodeando sua cintura. e o coração aquecido, certo de aquela é a sua única verdade. pour toujours.

tudo numa coisa só: a segunda parte;

eu me confiei a você. pela primeira vez, deixei abrirem a porta secreta ao centro de tudo. para depois descobrir que nunca houve um centro, para então deixar que o tudo se adaptasse aos seus doces contornos e inconfundível presença. o meu coração nas suas mãos e naquele conflito entre dizer e negar, ser e não-ser, sempre com excessiva intensidade. todavia, sequer me questionava a respeito da propriedade dos meus atos e do meu coração; você parecia onipotente e onipresente, enquanto eu era sempre a falta. você me preenchia. até que notei. nas quartas de tarde e outros momentos igualmente irrelevantes, você se distraía, enquanto eu me concentrava em memorizar aqueles instantes. e passou a ser tão frequente, passou a existir várias oportunidades em que eu soube que poderia me reaver. e, no entanto (bem sei que prefiro estar em você).

tudo numa coisa só: a primeira parte;

não saberia explicitá-lo, mas sei de sua existência: o vigésimo primeiro momento. depois de tantos enganos, implicâncias e falhas, nada mais natural que sua ocorrência. e o nosso silêncio, esse não mais acompanhado de pedidos de atenção no meio da noite - sequer havia tais noites - mas que, ainda assim, não feria; à distância, apenas aceitávamos sua plenitude. até o encontro, aquele confronto cruzado entre nossas (in)certezas. mantínhamos o silêncio, mas não podíamos negar aquela cumplicidade tácita escondida atrás de pequenos olhares, perguntas planejadamente desinteressadas e vontades interrompidas. eu soube o seu olhar de reprovação ao me oferecerem um cigarro, não soube o que fazer quando te vi dançando e, espantada com nossos rumos, notei que te sei, soube, saberei. sempre.

a tempestade carrega a calmaria;

6.4.08

não há qualquer beleza em minhas palavras, não tente enxergá-la e nem diga nada a respeito. existe nelas apenas o desespero áspero, a última tentativa de consolo quando todas as outras são inexistentes. porque são duas da manhã e o medo me percorre inteira, sem qualquer outra possibilidade de apaziguar. um medo que chega ao centro de tudo e não se deixa verbalizar; um medo maior do que o próprio sentir-medo. e não há nada a fazer além de derramar as palavras, além de utilizar essa força escura que se aproveita da minha fragilidade. não há mais nada nem ninguém no momento. minha força está na solidão, eu preciso dizer para tentar explicar a consecutiva ausência nos instantes exatos em que eu mesma me falto a mim. o meu ideal de salvação é uma mão para segurar, um descanso na minha loucura, como para guimarães rosa. mas preciso me contentar com o quarto vazio e o fechar dos olhos do mundo. com a força que surge apenas da minha fragilidade e, de repente, torna-se brutal, de repente torna-se palavras e palavras escritas como forma de expelir o medo a angústia o não-sei-mais que existe por dentro. vezenquando olho no espelho e tomo sustos por ele não me saber e jamais denunciar o vazio ou mesmo a força brutal. talvez seja esse o motivo de ninguém mais compreender; não enxergam o invisível. e por tanto tempo esperei por uma palavra que pudesse salvar ou por uma ínfima compreensão que agora sou só desgaste. agora o medo se apodera e eu fecho os olhos. e busco força na minha solidão, porque é tudo que me resta.

~

it's just: love.

on est toujours dans la même histoire;

1.3.08

movimentos ritmados intencionados a roubarem o espaço do sentir-demais não irão adiantar. todas as tentativas serão inúteis, bem sei. e, no entanto. e, no entanto. repito, na esperança de existir alguma resposta nas gastas repetições, na busca incansável, na fadiga intolerável. no fundo da descrença há sempre uma centelha de luz que mal pode esperar para ser acessa.

não sei como sobrevive, pois há tanto tempo é inverno por dentro; ventos gelados, vazio demográfico e total congelamento. talvez esse seja mesmo o último resquício, a última e
desesperada tentativa de acender aquilo que um dia fez brotarem tantas flores. tentar recuperá-las, a custo de qualquer dor, parece a única alternativa viável. por mais que doa terrivelmente sempre encontrar as portas trancadas, as janelas encobertas e o toque da campainha recusado.

esses momentos costumam ser incrivelmente férteis para a imaginação-paranóica, que enxerga todo o tipo de coisas (in)desejáveis e quase consegue sentir o agradável calor do lado de dentro daquelas cortinas cerradas. por fora, o frio agrava-se, como se simplesmente não fosse possível existir forma de vida que não estivesse contida naquelas quatro paredes. lá, onde seria preciso estar. ou de onde será preciso fugir.

é quando surge a tentativa de abstração, de ser e estar em uma dimensão diferente, alheia a tudo o que já foi. ato de covardia ou não: mais uma cerveja, mais uma música, mais uma noite com alguém qualquer. ou alguma outra forma igualmente desesperada de euforia vazia a que se possa recorrer; praticamente apelar. o caos externo se sobrepondo ao interno parece funcionar.

ou assim tenta-se acreditar, como se qualquer ato aleatório pudesse ajudar. inutilmente. é um despropósito construído inteiramente sobre um terreno infértil, um terreno que ainda conserva as raízes das flores antigas, o aconchego da casa anterior. e seria doloroso demais arrancá-las, seria, talvez, o apagar da última centelha, sucumbindo à mais profunda falta de rumo.

a absurda contradição consome qualquer ínfima tentativa de sensatez ou procura de novos rumos; nenhum outro seria. resta, apenas, o desesperado esperar: dias em frente a porta tocando incessantemente a campainha seguidos de outros tantos passados entre lágrimas e pequenos êxtases, vezenquando até pequenas liberdades - nunca consumadas. constantemente a angústia palpitante e a frase, tantas vezes repetida numa espécie de mantra: deve haver alguma dignidade nisso tudo.

...

12.2.08

just pretending you didn't tear my world apart.

mão-dupla.

29.1.08

hoje eu tenho todas as palavras montadas num esquema lógico. pela primeira vez em tanto tempo, eu ouso tê-las; decidi me dar um voto de confiança. que ninguém fique sabendo, mas, cá entre nós, sempre houve muita decisão escondida sob essa camada de fragilidade. essa insegurança que cala muita das minhas vozes. eu sempre soube, sem jamais procurar saber.

agora, contudo, a situação é outra: construí minhas certezas, de forma que suas incertezas não possam mais me derrubar tão facilmente. alguém me disse, eu não ouvi, que um relacionamento (com todas as pomposidades - inúteis - da palavra) é completamente mão-dupla, entende? a sua mão também tinha que estar lá, eu nunca vou poder substituí-la com a minha outra mão.

nunca. tenho mania desses exageros típicos de quem está tão imerso nos sentimentos que mal enxerga qualquer dimensão. estou prestes a me afogar dentro de mim e é tão simples, tão humano oferecer sua mão para me ajudar. ainda que depois seja preciso criar toda uma nova forma de agir, ainda que no começo as palavras fiquem engasgadas: enquanto houver nossas duas mãos, unidas, eu vou até o infinito com você - por você, por nós.

serenidade.

28.1.08

agora lá fora está tudo meio nublado, meio coberto de neblina de um jeito que as coisas parecem muito mais...serenas. os carros passam lá no aterro, mas o movimento é bem distante, de um jeito que não perturba essa sensação de calma tão grande. pra completar, alguém toca saxofone, uma música doce e melancólica, lá no andar de cima. parece a trilha sonora que eu, mentalmente, escolhi para compor o momento. e essa espécie de proteção contra tudo que possa causar uma batida mais acelerada, descompassada do coração. agora tudo segue perfeitamente o compasso das notas do saxofone, da chuva fina e das palavras do homem que filmou o amor (eu lia um livro de cinema que falava sobre truffaut).

não queria pensar mais nada, sentir nada que fosse mais intenso que o delicado balançar dos barcos na baía de guanabara ou a leve subida do avião, que agora já se perde entre as nuvens - eu sempre fui fascinada por asas. mas há algo ainda inquieto: o saxofone vezenquando pára e os meus dedos criam ritmos nervosos ao baterem na mesa.

eu sei que agora sou toda presença em mim mesma, que nenhum vento balança os coqueiros que têm raízes profundas. mas há sempre partes mais frágeis, e as pontinhas das minhas folhas não conseguem se defender nem mesmo dessa brisa mansa (e de repente todo o cenário parece mais angustiado). há uma ausência.

o saxofone agora constata apenas a melancolia: esta solidão de se ouvir um som distante e quase mudo por não se ter quem ouvir mais perto. esse olhar constante para fora - ou para dentro de mim - pela falta de perspectiva de algo mais. a distância enorme daquilo que me falta; e ainda mais longe, desaparecendo sempre na brusca curva da pista do aterro. esse não estar: a presença transfigurada em ausência.

e, de repente, constatar o que falta se torna fácil como notar a ausência da vela nos barcos a frente; tornando qualquer espécie de movimento um tanto mais complicada. a música sempre me conduzindo: fecho os olhos e consigo enxergar a cena perfeitamente. ou sem qualquer perfeição, porque não seria preciso encontrar tanta serenidade do lado de fora caso ela já estivesse dentro.

a cena é a mesma, bem como minha busca por qualquer espécie de paz. mas a presença da ausência não mais esconde-se sob a neblina: consigo delinear perfeitamente todo o espaço - ou seria todo o estrago? - que há dentro de mim: truffaut o filmou, eu não posso viver sem ele; compassado, vezenquando em notas melancólicas, mas que, enfim, sempre restaure a serenidade aconchegante, que acabe com essa ausência insuportável.

(então suspiro, baixo, discreto. não ouso interromper a melodia do saxofone, nem, tampouco, a minha - quase serena - solidão.)

para dar valor.

15.1.08

nunca mais posso fazer isso comigo.

...

14.1.08

nothing's gonna change my world.

como tudo.

12.1.08

saí andando, tão concentrada na dificuldade de dar cada um daqueles passos que não pensava em outra coisa. parei só para comprar um café e sentar do lado de fora, esperando que você seguisse o meu caminho e meus passos tão incertos. em vão. descobri que não gosto de café: ele é quentinho e aconchegante, mas quando acaba deixa um gosto amargo na boca.