on est toujours dans la même histoire;

1.3.08

movimentos ritmados intencionados a roubarem o espaço do sentir-demais não irão adiantar. todas as tentativas serão inúteis, bem sei. e, no entanto. e, no entanto. repito, na esperança de existir alguma resposta nas gastas repetições, na busca incansável, na fadiga intolerável. no fundo da descrença há sempre uma centelha de luz que mal pode esperar para ser acessa.

não sei como sobrevive, pois há tanto tempo é inverno por dentro; ventos gelados, vazio demográfico e total congelamento. talvez esse seja mesmo o último resquício, a última e
desesperada tentativa de acender aquilo que um dia fez brotarem tantas flores. tentar recuperá-las, a custo de qualquer dor, parece a única alternativa viável. por mais que doa terrivelmente sempre encontrar as portas trancadas, as janelas encobertas e o toque da campainha recusado.

esses momentos costumam ser incrivelmente férteis para a imaginação-paranóica, que enxerga todo o tipo de coisas (in)desejáveis e quase consegue sentir o agradável calor do lado de dentro daquelas cortinas cerradas. por fora, o frio agrava-se, como se simplesmente não fosse possível existir forma de vida que não estivesse contida naquelas quatro paredes. lá, onde seria preciso estar. ou de onde será preciso fugir.

é quando surge a tentativa de abstração, de ser e estar em uma dimensão diferente, alheia a tudo o que já foi. ato de covardia ou não: mais uma cerveja, mais uma música, mais uma noite com alguém qualquer. ou alguma outra forma igualmente desesperada de euforia vazia a que se possa recorrer; praticamente apelar. o caos externo se sobrepondo ao interno parece funcionar.

ou assim tenta-se acreditar, como se qualquer ato aleatório pudesse ajudar. inutilmente. é um despropósito construído inteiramente sobre um terreno infértil, um terreno que ainda conserva as raízes das flores antigas, o aconchego da casa anterior. e seria doloroso demais arrancá-las, seria, talvez, o apagar da última centelha, sucumbindo à mais profunda falta de rumo.

a absurda contradição consome qualquer ínfima tentativa de sensatez ou procura de novos rumos; nenhum outro seria. resta, apenas, o desesperado esperar: dias em frente a porta tocando incessantemente a campainha seguidos de outros tantos passados entre lágrimas e pequenos êxtases, vezenquando até pequenas liberdades - nunca consumadas. constantemente a angústia palpitante e a frase, tantas vezes repetida numa espécie de mantra: deve haver alguma dignidade nisso tudo.