modo silencioso;

8.7.08

de qualquer forma, não encararia como uma despedida. não. aquilo era mais como uma: constatação de impossibilidades. possivelmente disfarçada, escondida debaixo da crescente mágoa e das palavras ineficazes. sabia exatamente o momento de partir, num modo tão rigorosamente preciso que era capaz de evitar mesmo os esboços de sofrimento. bastava aquele pequeno sinal, a fagulha de um sentimento de decepção; que poderia surgir durante uma briga, uma sessão de cinema ou mesmo entre um beijo e outro.

e foram tantas vezes que mal conseguia lembrar-se sem investir tempo, cafés e cigarros. companhias suficientes para esvaziar maços e maços, presentes nos mais diversos acontecimentos. sem, no entanto, chegarem, em qualquer ocasião, a ultrapassar sua superfície. vinte e cinco anos, cabelos castanhos, uma certa dificuldade - até graciosa - em pronunciar palavras com "r". mas ninguém foi capaz de descobrir a forma como a sua vontade de chorar podia ser sentida pelas mãos, ou o silêncio enorme que fazia em seu interior. jamais souberam sequer do enorme incômodo que era sentir-se por fora daquilo tudo que representava justamente: sua vida.

nem ele se deixava saber. vezenquando entre uma página e outra de seus autores favoritos, imaginava seus próprios escritos: algumas palavras perfeitamente pensadas, "imponentes" "desinteresses" e "inadaptabilidades". e do pensamento desviado surgiam outras, que o tornavam "portador-do-maior-dos-vazios-internos". mas não se dispunha à tais sentimentalidades. não se dispunha a deixar mais do que o cigarro se desfazer em cinzas e encontrar despedidas e dores, que tanto receava; para evitar constrangimentos. para evitar que doesse. e havia a dor. possivelmente disfarçada, debaixo de silêncios e pequenas - assustadoras - ignorâncias.

2 comentários:

Lívia Frederico disse...

delicado e dolorido.

;*

L. disse...

colorido-dolorido